Trouxeram-lhe rosas brancas com gotas de orvalho dessa manhã.
O sol brilhava, entrava por todas as pequenas frestas, inundando tudo com a sua luz radiosa, acalmando-lhe o corpo e excitando-lhe a alma de emoções.
Sorria, saudando tudo o que parecesse de amores fugazes ou não, paixões mais ou menos fortes, de vidas partilhadas com prazer.
As gotas brilhavam de alegria, dançavam aos seus olhos, mostrando toda a grandeza involuntária da Natureza.
A impotência era tamanha! Não podia lutar contra o que não domina. Também não podia esconder, nunca mais.
O amor era maravilhoso demais para recusar.
Resignou-se e aceitou calmamente o sentimento que lhe corroía o ser em sonhos, que a impedia de deixar de sorrir.
As rosas brancas faziam-na ter a certeza de que já não podia fugir daquilo que tanto a assustava, daquilo que ela tentava em vão renegar.
Sentia-se rebentar de felicidade.
Saiu ao encontro da metade de si.
O sol queimava. Ou seria o desejo? O desejo de mostrar a todos que amava queimava-lhe o coração ao ponto de querer gritar aos quatro ventos que amava. Já não queria disfarçar. Assumia-se totalmente, nada temendo. Como era bom! Agora compreendia os que a rodeiam, fazendo alarde dos seus sentimentos.
Do alto do telhado onde se encontrava podia abraçar o mundo. Queria abraçar o mundo!
A noite tinha sido grande demais para se dar ao luxo de desperdiçar o sol que agora despontava.
Espreguiçou-se, deitando fora a capa negra que a cobria, escondendo-a num canto recôndito onde não a podia ver.
Tinha chegado a hora de se ondular com o vento, esperando que a levasse à sua metade, dançando sempre.
As aves cantavam com prazer anunciando a vida que despontava naquela metade de alguém, naquele ser incompleto, inacabado propositadamente aquando da concepção do mundo.
Os mistérios da vida podem tanto! Tinha sido livre até agora e estava prestes a prender-se voluntariamente, sem nada perguntar nem questionar. Parecia uma semente, voando sem destino até cair no chão, enterrando-se para que as flores nascessem. As suas flores eram das mais variadas cores e formas, formando vários canteiros num só, alimentando de vida as mais estranhas criaturas.
Foi levada pelo vento sem rumo aparente. A sua metade havia de aparecer.
Juntar-se-iam, então, num só, fruto do amor que lhes tinha sido destinado no início, felizes sem nada saberem dos mistérios existenciais. Rujubilariam de unidade, sentindo-se cheios de si, completos, sem necessidade de outros que não eles próprios.
E toda a existência seria completa...
. O quarto azul do mar da i...
. Despojos