Vinha de longe. Lá do frio do orgulho e do deserto do abandono. Sentia necessidade de aquecer o corpo esgotado no aconchego que só um amor pode trazer. Tinha necessidade de beber o elixir da vida: só assim sobreviveria.
Nos olhos e nos cabelos claros bailava a vontade de um ser, a vontade de um viver por outra alma que não a sua, mas que era sua.
A vontade de se dar era tanta! O perigo de não se dar era imenso!
Desesperava pelo arfar suplicante de outro corpo, pelo magnetismo dos lábios desejados nos seus mais loucos sonhos.
Como desejava dar-se!
Queria abrir as asas e voar. Voar para onde lhe apetecesse; voar livre do medo que lhe turvava a alma; voar para outros braços, para aqueles braços.
Queria ser livre. Poder nadar no mar da paixão sem nada que lhe prendesse os movimentos. Prender-se-ia de livre vontade. Como as algas se prendem às rochas. Quando morresse, partiria. Ou simplesmente quando o desejasse. Ansiava por poder partir e chegar quando quisesse. Esperava que a rocha compreendesse que a alga voltaria; que embora tivesse partido, a sua razão de viver continuava ali; que o seu coração continuaria fiél como no primeiro dia. Voltaria sempre.
Ficaria ainda antes de se aperceber. A necessidade do ir e vir da corrente desvanecer-se-ia como por encanto. Ondular-se-ia, sim, mas com o corpo assente no seu coração. Lutaria por fingir que assim não era. Perceberia que era em vão. Só mais tarde o daria a conhecer à rocha do seu viver. Dir-lhe.ia:
- Senti a tua falta...
Simplesmente. E a rocha perceberia que a sua alga voltara para ficar.
Tratá-la-ia com ternura; protegê-la-ia com o próprio corpo, como se de uma tenra rosa se tratasse. O ir e vir das ondas tinha-lhe demonstrado toda a sua fragilidade, a sua grande pequenez, a sua fraqueza igual à da rocha que chora na ausência da menina dos seus olhos.
Não era egoísmo que a levara tantas vezes a partir. Era o medo da incerteza, medo do seu sentir estranho a tudo o que já tinha experimentado.
A alga descansava agora no seu coração. Dormia aninhada no leito em que a rocha se transformara.
A rocha e a alga podiam agora descansar...
. O quarto azul do mar da i...
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. Despojos