É incrível... Já tinham passado oito anos... Oito anos pejados de muitas histórias, umas boas, outras nem por isso, mas algumas verdadeiramente más.
O tempo passa como o vento, umas vezes forte e outras fraco, mas a vertigem está sempre lá. A vertigem da existência, do ser e do ser por outro ser que não o nosso. Ser. Simplesmente. Porque há seres que precisam sempre de quem lhes ponha a mão por baixo, de quem os acarinhe e os faça caminhar.
Ao longo destes oito anos aprendeu muito. Aprendeu que o barro que sustenta a existência não é sempre moldável, como se da roda do oleiro se tratasse.
Pensava que os seres - de barro - estivessem em constante evolução, moldando-lhes os outros as formas consoante as vontades. Mas tinha-se enganado. Há barros que vão ao forno logo após o primeiro molde. Nestes casos, resta esperar que um toque despropositado os faça tombar no chão e os quebre. Nessa altura, cabe ao oleiro tentar remediar o problema. E quiçá, fazê-lo com um barro que seja mais maleável...
Nestes oito anos, comparou o barro de que era feita com o barro de outros. Será que o defeito era de fabrico. O seu barro era elástico: ora parecia uma jarra, ora um cântaro, outras vezes um prato, ou ainda um cinzeiro. E das mais variadas cores, consoante a mão do oleiro...
Da junção do seu barro mole e do barro (re)cozido que tinha encontrado há já oito anos nasceu a mais delicada peça; a mais bela jóia que alguma vez existiu. Uma pedra preciosa que brilha como mais nenhuma.
A pedra, a mais preciosa de todas, era difícil de moldar, ao contrário do barro que o oleiro trabalha na sua pedra. Mas, à semelhança do trabalho dos grandes ourives, ela vai continuar a limá-la, para que se torne no diamante mais perfeito.
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. Despojos